O Meu Avô

No outro dia falava sobre o meu avô a um amigo meu...

Do que me lembro era um homem grande (mas eu também era pequena), de poucas falas. Tinha as mãos ásperas e calejadas do trabalho e todos os dias, quando chegava a casa, sentava-se no seu banco de madeira, atrás da porta da cozinha, apoiava os braços nas pernas e aí ficava a olhar para a rua.

Era sentado nesse banco que aguardava enquanto a minha avó acabava de fazer o jantar e pôr a mesa. Era também nesse banco que eu ia ter com ele.

Todos os dias fazia a mesma brincadeira: chegava-me perto dele e ele perguntava: "onde está o açúcar?" e eu todos os dias apontava para a prateleira em por cima do fogão, onde estava o pote de plástico verde que tinha o açúcar... Era nessa altura, quando tinha o braço levantado, que ele me fazia cócegas, abraçava-me e deixava-me aninhar no seu colo.

Assim ficávamos os dois em silêncio durante algum tempo.

Nos dias em que estava muito bem disposto repetia a brincadeira ou fazia outra: "Vem cavalinho da ponta delgada que é levezinho, não pesa nada!!" enquanto subia e descia a perna comigo lá sentada.

Nesses dias a galhofa era tanta, o ruído e a movimentação na pequena cozinha era demais... a minha avó, atarefada com o jantar e farta da confusão dizia: "Graça para ter graça uma vez só basta!" e ele bem disposto e com cara de quem planeia traquinices respondia: "Graça para ter graça 5, 6 vezes basta!"

Ele morreu há mais de 20 anos, eu não vivo lá há mais de 10... A casa teve obras e está muito diferente, da porta da cozinha já não se vê a rua e pote de açúcar há muito que foi para o lixo...

O banco de madeira continua no mesmo sitio...

Comentários